Editorial
Dadaisticamente, a imagem acima mostra duas coisas e provoca na mente vários nomes, mas, frisa-se, mostra duas coisas.
Ali no centrinho, o que você vê? Mandioca? Aipim? Macaxeira?
E aquela bandeira? É a da bissexualidade? Símbolo del popolo (do povo em italiano) que gosta de não só de homem, não só de mulher, mas de todos os tipos de homo sapiens sapiens, certo?
O ponto desse texto é mostrar que talvez tenhamos de invejar a mandioca na comparação com o fraticídio que se tornou a relação entre os nomes da bissexualidade.
Pessoas convivem bem ao denominar o turbéculo de acordo com a região onde nasceram. Tem-se uma macaxeira no Nordeste, uma mandioca goiana e aipim sulista e tudo bem. Todos entendem: estamos dando nomes distintos para o mesmo alimento.
Há diferença na forma de denominar, mas um termo não fere o outro; ao explicar que se trata do mesmo significante tudo fica bem e o que importa é cadê a [fale o nome] quentinha com carne?
Entretanto, tal paz turbécula não existe quando se fala dentre as denominações bissexualidade e pansexualidade.
Em primeiro lugar, sim, se trata da mesmíssima orientação sexual: não se relaciona afetivo-sexualmente apenas com um gênero.
E aqui importante notar como que a redefinição de pansexualidade (sim, de quem sente prazer com árvore) para ela ser "bissexualidade limpinha e inclusiva" foi problemática, o que nunca deve ser esquecido.
Ali em cantos do Tumblr alguém pariu a ideia de que pessoas bissexuais não se relacionariam com transgêneros. Que a bissexualidade seria excludente por tal. Bissexuais olharam e mandaram um "WTF?" (porém deveriam ter falado mais alto!).
E até pessoas trans se incomodaram: "Oras, que divisão é essa se defendemos que homens são homens e mulheres são mulheres independentemente da identidade de gênero?"
Enfim, a estigmatização que faz de bissexuais quem defende o termo pansexual para falar do desejo por mais de um gênero não se salva em nada. Mas o fato é que pegou dentre jovens! Isso e as pulseiras da amizade de Taylor Swift!
E cá se está em 2025 com erros que vieram do berço e que, com muita papinha de supermicroidentificação, viraram uma mean girl!
O que era para ser algo como gay e homossexual (dois nomes para a mesma orientação sexual) ou macaxeira e aipim (dois nomes para o mesmo turbéculo), virou apagamento, invisibilidade!
Não existem uma bandeira para lésbicas e outra para sapatões! Não existem uma data para homossexuais fãs de Madonna e outra para os de Beyoncé (embora não seja má ideia!). Navega-se por nomes, mas nenhum atira contra o outro.
Tal não se dá entre bissexuais e quem se denomina pansexual: há datas, bandeiras, enfim, identidades distintas.
"Ah, tudo se dá no campo da significação, nada demais". Aí - também - tem engano!
Em pesquisas científicas, está-se há muito a separar bissexuais de pansexuais. Resultado? Números divididos falseadores da realidade que, antes de tal diferenciação egóica, era lida da forma correta: bissexualidade era a segunda orientação sexual no quantitativo, atrás apenas da heterossexual.
Por exemplo, em políticas públicas, há diferença se a pessoa se vê como bi ou pan? Pois é! Demandas iguais, baby, porque é a mesma orientação sexual!
E tudo dentro do que está grifado no Dia da Visibilidade Bissexual! Um segmento que reivindica visibilidade hoje é inundado por seus iguais que, por um detalhe etário ou outra falta de consciência histórica e ativista, não se veem como bissexuais! Algo como "Ah, tenho nada a ver com isso!". Que enfraquecimento da luta!
E, por medo de ser politicamente incorreto, o proto-movimento bissexual não consegue colocar tal ponto em debate.
Documentos tidos como importantes vindos de ativistas bissexuais tais como o Manifesto Bissexual Brasileiro (2021) e a Carta de Brasília (2023) têm petardos contra o mundo, mas não enfrenta a invisibilidade biprovocada internamente.
O problema é que o inferno ser apenas os outros, aqui, não cola e só faz as consequências negativas se agigantarem!
Mandiocas, aipins e macaxeiras quentes e Sergueis nunca estão errados!