Kaká di Polly: 'Ter votado 'errado' não desmerece a minha luta'

Em carta aberta, drag queen lamentou ter sido atacada e lembrou de seus anos de luta

Publicado em 24/06/2020
Kaká di Polly: drag queen fala sobre Bolsonaro e a comunidade gay
'Vocês nunca se apaixonaram pelo bofe errado? São seres divinos?', questionou

Kaká di Polly publicou um desabafo em seu site pedindo respeito e afirmando que sua luta pela comunidade LGBT não pode ser esquecida por causa de seu voto em Jair Bolsonaro nas últimas eleições.

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Na carta aberta, a drag queen diz que há um bom tempo arrepende-se do seu voto para presidente da República e que é precisa hombridade para reconhecer um erro e sabedoria para mudar de opinião.

"O que me impressiona é ver que as pessoas me julgam como se elas jamais tivessem cometido um erro ou sido enganadas na vida. Afinal vocês nunca se apaixonaram pelo bofe errado? Nunca curtiram a cantora errada? Jamais erraram? São seres divinos? Nasceram com o dom da perfeição? Que atire a primeira pedra quem nunca errou", afirma.

"Esses ataques que venho sofrendo só me fazem rir da ignorância das pessoas que não tem nem mesmo a decência de perdoar, mas eu as perdoo."

Ela continua: "O fato de eu ter votado 'errado', não desmerece a minha luta, não desfaz a minha história e NÃO É JUSTIFICATIVA, como alguns alegaram, para eu ser IGNORADA durante a tal parada virtual. Aliás, aos que afirmam que este teria sido o motivo, quero saber como justificam os outros tantos nomes que foram esquecidos."

No início da semana passada, Kaká divulgou vídeo reclamando da ausência de figuras históricas do movimento LGBT na 1ª Parada Virtual do Orgulho LGBT, realizada no domingo 14.

Há poucos dias, passaram a circular boatos de que a associação que organiza a para havia bloqueado Kaká nas redes sociais, e também prints de um post do blog da própria Kaká em que ela elogiava Bolsonaro.

Na segunda-feira 22, a artista, então, esclareceu que não havia sido bloqueada pela entidade e confirmou que, sim, havia votado em Bolsonaro.

Nas redes sociais, muitos usuários criticaram a drag, a "cancelaram" e disseram ter sido justo, por isso, o esquecimento da organização da parada de convidá-la.

Na carta aberta, Kaká ainda afirma que "se a polícia, se as agressões físicas e verbais não me calaram durante décadas, não serão biscoiteiros de plantão e desinformados que me calarão".

Leia a carta na íntegra:

Olá! Antes de mais nada, #respeiteaminhahistoria e me diga #kdomeuconvite?

Nos últimos dias, curiosamente, fui lembrada. Infelizmente, não pela minha história de luta pelos direitos de nossa comunidade, mas sim, por exigir o reconhecimento que me é devido, por parte desses que aí estão usufruindo daquilo que eu e meus amigos construímos lá atrás, em 1997, quando muitos que estão lendo esse texto nem haviam nascido ou, se quer, sabiam o que era a Parada do Orgulho LGBTQIA+.

Depois da minha live da segunda 15/06, no Facebook, criticando o fato de que a “1ª Parada Virtual LGTBQIA+ de São Paulo” havia IGNORADO os nomes que construíram este caminho, inúmeros sites e pessoas me acessaram querendo entrevistas, matérias, babados e confusões. Alguns, com o real intuito de me ouvir... Outros, sem meu consentimento, usando minha imagem e meu nome para ganhar visualizações.

Pois bem... Eu respeito muito todos estes novos blogueiros, youtubers e celebridades instantâneas que a internet criou, mas eu não sou desta era de facilidades em que pode-se impulsionar anúncios e conteúdos para conquistar likes e seguidores, tanto que nunca o fiz e nem o farei.

Cada pessoa que me segue nas redes sociais, veio através do suor de anos de luta pela causa, de enormes desgastes físicos, financeiros e emocionais. Investimentos de uma vida inteira, para que hoje, vocês possam “divar” pelas redes sociais, no conforto e segurança de seus lares. Não sou desse tempo em que covardes atacam pessoas protegidos atrás de uma tela, comigo sempre foi cara a cara.

Esta semana, após ter minhas lives misteriosamente deletadas pelo Facebook e ser bloqueada pela rede social, comecei a apresentar minhas lives pelo Instagram.

Já na primeira live, ontem, 22/06, pessoas que CLARAMENTE não se informam e não me seguem em minhas redes sociais, partiram para o ataque, me acusando de “apoiar Jair Bolsonaro”. Eu não nego... Sim, votei nele. Estava cansada, esperando e acreditando em mudanças. Mas quem me segue de fato e não veio ao mundo para plantar sementes ruins, sabe muito bem que há um bom tempo ME ARREPENDI do meu voto... Venho deixando isso BEM CLARO em minhas redes sociais. Há de se ter MUITA HOMBRIDADE para reconhecer um erro e muita sabedoria para mudar de opinião. O que me impressiona é ver que as pessoas me julgam como se elas jamais tivessem cometido um erro ou sido enganadas na vida. Afinal vocês nunca se apaixonaram pelo bofe errado? Nunca curtiram a cantora errada? Jamais erraram? São seres divinos? Nasceram com o dom da perfeição? Que atire a primeira pedra quem nunca errou. Esses ataques que venho sofrendo só me fazem rir da ignorância das pessoas que não tem nem mesmo a decência de perdoar, mas eu as perdoo.

Sim, solicitei a minha equipe que removesse do meu site o post em que eu comemorava um “novo governo”, pois para mim, o tal post já não faz mais sentindo algum. Não estou satisfeita e nem conformada com a situação política atual do meu país.

O fato de eu ter votado “errado”, não desmerece a minha luta, não desfaz a minha história e NÃO É JUSTIFICATIVA, como alguns alegaram, para eu ser IGNORADA durante a tal parada virtual. Aliás, aos que afirmam que este teria sido o motivo, quero saber como justificam os outros tantos nomes que foram esquecidos.

Não diferente do restante do nosso país, nossa honrada comunidade parece ter memória CURTA, a não ser que lhe seja conveniente, não é mesmo?

Os julgamentos vindos de quem NÃO CONHECE a minha história são tão irrelevantes quanto as Fake News, que seguem a mesma lógica Ilógica: julgar, condenar, publicar e atacar, sem checar fontes, sem ter conhecimento algum de causa. Corrupção disfarçada de militância!

Pode-se esquecer e ignorar quem iniciou o movimento LGBTQIA+XZWZ no Brasil, mas se uma dessas pessoas votou errado, dá-lhe ataque, cospe-se no prato que comeu, agride-se quem sempre lutou INCANSAVELMENTE por nossos direitos.

Se a polícia, se as agressões físicas e verbais não me calaram durante décadas, não serão biscoiteiros de plantão e desinformados que me calarão.

Eu NÃO PRECISO de associações que EXCLUEM pessoas. Eu FAÇO associações. Associações de amigos, de pessoas interessadas SOMENTE na nossa luta e na nossa verdade.

Espero que os mesmos sites e pessoas que saíram por aí replicando notícias sensacionalistas usando meu nome e minha imagem, sem qualquer crédito ou autorização, hajam como eu e tenham a HOMBRIDADE de republicar esta carta aberta.

Continuarei com meus bordões de guerra contra a homofobia e contra todos os tipos de preconceitos.

#kdomeuconvite

Atenciosamente

Carlos Alberto Policarpo

Kaka di Polly – Ator, Drag Queen e Psicólogo.


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