Peça 'Boy' mostra lembranças de um michê sobre aids e política

Espetáculo faz curta temporada na Casa Fluida, região central da cidade

Publicado em 20/06/2022
Peça gay Boy fala de aids e prostituição
Gil Hernández vive o garoto de programa Fernando no espetáculo. Foto: Leekyung Kim

A aids, a violência e a estrutura do poder no Brasil são temas de Boy, espetáculo que estreia nesta segunda-feira 20 em São Paulo.

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O autor Rogério Corrêa explica que a peça teve origem em outro texto seu, De Bar em Bar, que reúne monólogos de quatro personagens durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Boy é a versão expandida de um desses personagens, o michê Fernando.

"Eu sentia que a história dele não cabia na peça. Ele não só descreve essa época do ponto de vista das pessoas LGBTQIA+, como viveu muito intensamente nesse período. Ele perdeu muitos amigos e viu a aids surgir logo depois da enorme liberação sexual, política e cultural que aconteceu depois do fim da ditadura militar", conta o dramaturgo.

Na história, Fernando está em sua sauna gay e relembra momentos marcantes que passou no Rio de Janeiro, 30 anos atrás, na época do impeachment de Collor, incluindo a perda de amigos no auge da epidemia da aids.

"O que mais me atrai nesse personagem é que ele tem uma mensagem positiva de que a aids não destruiu a comunidade, mesmo diante de toda a tragédia e todas as perdas representadas por aquele período. Foi preciso começar a se falar de gays, de sexo anal, de camisinha e de sexualidade", pontua.

"Existia uma ilusão de que a sexualidade era uma opção, mas esse período ajudou a nos mostrar como ela é tão essencial para as pessoas, pois ninguém escolheria algo que traria tanto risco para a sua vida. E o personagem Fernando é a celebração da afirmação da sexualidade, da vida e da resistência da nossa comunidade."

A peça, ainda segundo o autor, traça um paralelo entre a década de 1990 e o atual contexto do país. "Temos novamente um novo político de direita no poder, com uma história de fisiologismo, de corrupção, alguém menor que se apresenta como um defensor da maioria. Também temos uma doença que matou quase 700 mil pessoas graças ao descaso deste governo genocida", diz.

"Claro que as doenças são diferentes, mas quero passar uma mensagem positiva para a comunidade LGBTQIA+, que está novamente sob ataque, de que podemos nos fortalecer neste período e ser felizes, alegres e bem-sucedidos na vida, assim como o protagonista, apesar de todo esse risco de sofrermos retrocessos em nossas conquista."

Já o diretor Isaac Bernat, que fez parte do elenco da primeira peça no Brasil sobre a aids – o espetáculo Por que Eu? (1987), dirigido por Roberto Vignati –, conta que o novo trabalho também tem a missão de alertar as pessoas para o fato de que a doença continua infectando muitas pessoas.

"Quando fiz a peça nos anos 80, aprendi muito sobre a aids, porque tínhamos aulas e conversas com muitos cientistas e pesquisadores. Na época, sabia-se muito pouco sobre a doença e ainda se falava que a comunidade LGBTQIA+ era um grupo de risco, o que gerava muitos estigmas. Então, aprendemos que deveríamos falar, na verdade, sobre comportamento de risco e passamos a entender que qualquer pessoa, independentemente da orientação sexual, pode entrar em contato com o vírus", afirma Bernat.

Boy faz curta temporada, de segunda à quarta, até o próximo dia 28, na Casa Fluida, bar LGBT na Consolação, região central de São Paulo. Mais informações você tem em nossa Agenda.

 

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