Sem integrarem debates, homens trans cobram visibilidade em parada

Foco da crítica é live feita no início do mês. De todas pessoas associadas à APOLGBT, há apenas uma do segmento

Publicado em 21/06/2021
homens trans parada de são paulo
De todos segmentos, apenas trans já foram tema específico da parada, quando entidade era presidida por gay

Realizada no último dia 6, de forma digital, a 25ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo teve pouca representação de homens transexuais e o fato virou motivo de petição on-line. 

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Ao mesmo tempo, apenas uma pessoa do segmento é filiada à entidade organizadora e nenhuma participou de debates públicos propostos pelos organizadores do evento. 

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Assinado pelo Coletivo de Artistas Transmasculines (Cats) e Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), o abaixo-assinado pede retratação dos responsáveis pelo evento por terem dado dois minutos de fala para esse segmento.

"Quantas oportunidades a Parada poderia ter gerado para esses transmasculines/os? Além de Militantes/Ativistas que todos os dias tem [sic] representado seus estados", diz trecho da petição.

O texto também mira homens gays com acusação de que eles "apagam" outras identidades dentro da comunidade.

"Sabe-se que em todos esses eventos, a proporção de homens gays cisgêneros é radicalmente superior. E não é de se estranhar que haja processos de apagamento dentro da esfera LGBTQIAP+."

O abaixo-assinado não marca o fato de um homem trans já ter sido presidente da parada paulistana (Alexandre Peixe dos Santos), não cita a possibilidade de o segmento se filiar à marcha para trabalhar por ela nem lembra que a cidadania trans já foi tema do ato, em 2016, quando um homen gay era presidente (Fernando Quaresma).

Lésbicas e bissexuais nunca foram foco do evento de forma específica.

O Guia Gay São Paulo procurou a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT) para falar do abaixo-assinado.

A entidade informou que a pauta trans sempre esteve presente nos eventos on-line ainda que homens transexuais não se envolvam em reuniões, e que esses encontros são divulgados em todas as redes e site do coletivo.

"Apenas uma pessoa que se identifica como homem trans se inscreveu para uma das reuniões abertas, mas acabou não participando da reunião na data agendada", informou a assessoria da entidade.

A adesão do segmento à construção cotidiana da entidade é baixa. Segundo a APOGLBT, somente um homem transexual é associado à organização atualmente.

"É necessário deixar claro que somente com o envolvimento maior das pessoas da comunidade de homens trans, seja se associando ou participando das reuniões abertas, nas ações da ONG é que conseguiremos construir algo que seja mais representativo para as mesmas pessoas", diz a entidade.

"Podemos citar como exemplo a questão das pessoas LGBT com deficiência que começou a entrar nas pautas e como ponto de atenção da associação a partir da participação ativa de pessoas com deficiência, como a blogueira Ivone Oliveira, que hoje em dia faz parte da diretoria da APOLGBT-SP."

Para o escritor e militante Luiz Fernando Prado Uchôa, homem trans, filiado à APOLBGT e coordenador do Núcleo de Transmasculinidades da Rede Família Stronger, faltou atenção da parada no momento da elaboração do evento.

"O movimento social é dinâmico, então a parada não tem como dar conta de todas as movimentações, mas tem o dever de casa de ficar atenta. Faltou esse timing de chamar outros movimentos sociais para propor atrações, propor pessoas que convivam e vivam com HIV, com pessoas que tenham o que dizer sobre o tema", disse.

Luiz Fernando destaca, no entanto, que os movimentos também precisam se aproximar da entidade.

O ativista criticou as menções a gays no abaixo-assinado: "Eu não acredito, por exemplo, que você fazer ataque contra qualquer segmento valide o seu. Isso pra nenhum dos lados. Eu acredito em união."

"Acredito que existam muitos cis gays que são contrários às transmasculinidades, como muitos homens trans têm certos posicionamentos problemáticos", afirma. "Nossos inimigos são outros. São pessoas conservadoras, fascistas, que querem implementar todo um controle acerca dos nossos corpos, dos nossos afetos, das nossas sexualidades."


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