Gays e trans presos de Minas aprendem crochê e contam benefícios

Curso foi ministrado por detenta trans que aprendeu técnica em oficina ano passado

Publicado em 25/10/2020
Presos trans e gays fazem crochê em penitenciária de São Joaquim de Bicas, em Minas Gerais
Curso durou dois meses e ensinou diversas técnicas de crochê. Foto: Sejusp/Divulgação

Se você acha que a arte do crochê é praticada só por mulheres cis da terceira idade - em outras palavras, as vovós - se engana.

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Em Minas Gerais, a técnica foi inserida em presídios e trouxe conquistas financeiras, psicológicas e comportamentais.

O curso "Maxi Crochê - Tecendo a diversidade", concluído este mês, foi voltado especificamente a presos da ala LGBT da Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas, Região Metropolitana de BH.

Por dois meses, gays e transexuais aprenderam diferentes técnicas e produziram peças, que puderam ser vendidas por parentes, fora do presídio. A renda obtida foi dividida entre a família e os presos.

As aulas foram dadas por uma detenta transexual, Maria Vitória, de 27 anos, que aprendeu a arte do crochê em uma oficina promovida pelo Conselho da Comunidade da Comarca de Igarapé, também na Grande BH, no segundo semestre do ano passado.

"O aprendizado permitiu às participantes descobrir que têm capacidade de construir algo belo, muito diferente do crime, da prostituição e das drogas", disse a diretora de Atendimento da penitenciária, Cristiane Leite Rodrigues, ao jornal O Estado de Minas.

Dentre os presos, estão condenados por homicídio, latrocínio, tráfico, roubo e furto, que se encontram em processo de recuperação e de qualificação.

A instrutora Maria Vitória disse que o crochê a ajudou a superar crises de depressão e ansiedade. 

Outra detenta, também trans, Júnia Venturini, contou que sentiu algo pela primeira vez em sete anos, desde que foi trancafiada.

"Para mim, em particular, o curso foi o resgate da minha autoestima. Eu me senti mais valorizada e mais útil", disse.

Outro preso e participante do curso, Élcio Dias falou: "Eu ficava na cela, mais retraído, não conversava com ninguém. Depois que vim para o curso, estou me expressando mais. Todos notaram muita diferença ao conversar comigo. Estou me saindo muito bem e fazendo uns cachepôs bem bonitos."

Para a detenta trans Isabel Cristina, o curso de crochê foi mais do que uma ferramenta de resgate da autoestima.

"A gente trata com toda essa seriedade essa oportunidade, porque é prazeroso. É uma oportunidade, uma ação reparadora para todos nós", assegura. "Hoje, me sinto uma pessoa importante pra a unidade, para todo mundo que está aquim torcendo por nós."


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