Até quando defendem LGBT, empresas excluem lésbicas e bissexuais

A ação contra projeto de lei discriminatório em São Paulo foi positiva, mas não é possível aceitar símbolo nazista e apagamento

Publicado em 25/04/2021
bandeira do progresso empresas diversidade
Com suas logos, empresas são zelosas. Com símbolo de movimento social, ofertam desrespeito. Foto: Depositphotos

Editorial

É texto de cobrança e decepção. Mas, antes, o elogio é necessário. Projeto de lei estadual em São Paulo objetiva vetar qualquer publicidade com LGBT que envolva crianças ou voltado a elas. Razão? Não causar "incômodo em famílias" com conteúdo que é "má influência". 

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No legislativo paulista, a deputada trans Erica Malunguinho (Psol) é líder contra o absurdo. Fora daí, algo inédito aconteceu esta semana: em peso, diversas empresas e agências de publicidade se manifestaram nas rede sociais para evitar o avanço da proposta.

Antes, esperavam o fim da batalha e comemoravam. Agora, estão no front! 

Por isso, é triste, ao olhar o que foi feito, ter de se manifestar. Sim, uma onda de boa ações, exemplos de compromisso com a cidadania, sinal de que a diversidade passa a ser valor dessas companhias. Mas não, não houve apenas acerto! E não é só um detalhe!

Exceto no caso de homens homossexuais - que acabam de criar o Dia Nacional da Afirmação Gay (28 de fevereiro), todos outros segmentos clamam e expressam sua luta em uma palavra: visibilidade! 

Daí vêm Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29 de agosto) e Dia da Visibilidade Bissexual (23 de setembro). 

Não é pedido. É exigência, já que se trata do direito de existir e ter reconhecimento social como indivíduos e coletivo.

E o que algumas empresas fizeram ao mostrar posição contratária ao referido projeto de lei, o qual quer eliminar existências? Eliminaram existências!

Sim, 2021, e ainda o movimento LGBT tem de lidar com a frase feita, mas real: de boa intenção... as companhias que se pintam de arco-íris estão cheias!

É inexplicável as corporações (grandes, médias, pequenas) não terem consciência ainda do quanto um símbolo com o arco-íris e apenas com as cores de um dos segmentos não dá conta da diversidade que tanto enchem as palestras e fotos sorridentes de seus CEO, CMO e que tais. 

Importante registrar que grande maioria das companhias respeitaram a visibilidade de todos segmentos com o uso da bandeira arco-íris. Entretanto o desrespeito, mesmo minoritário, precisa ser logo apontado. Tim, FCB Brasil, Boticário e Oliver Latin America estão nessa lista!

Não era para ser difícil entender que, tal como a bandeira do Brasil representa todas unidades da Federação, enfim, a soma de todas partes, a bandeira do orgulho faz isso em relação à pauta de orientação sexual e identidade de gênero.

E que, como exemplo, ao pretender representar o Brasil, juntar à flâmula nacional a do Rio de Janeiro, outras 26 UF ficariam de fora ou colocadas como "menos". 

A quem ouvem as equipes de publicidade ao praticar tal apagamento de identidades em um movimento que é plural? Olham matrizes internacionais para ver um novo trend e colocá-lo goela abaixo dos movimentos sociais? Fazem buscas rápidas pela internet? E quando vão respeitar a história de mais de 40 anos da bandeira arco-íris?

Exemplo são falas de importantes lideranças lésbicas brasileiras que já se pronunciaram: a bandeira arco-íris é o símbolo do movimento e engloba toda nossa luta. Destacar nela um ou outro segmento e deixar outros tantos de fora não tem outro nome: apagamento!  

nazismo triângulo rosa gays
Absurdo empresas usarem, em 2021, triângulo rosa, forma de nazistas marcarem gays em campos de concentração

Sonham tais equipes criativas que triângulos rosas - algo utilizado pelas empresas esta semana - eram forma de nazistas marcarem homossexuais nos campos de concentração e que o movimento há muito luta para deixar esse passado, inclusive a referência à figura geométrica como representação, no passado?

Até autoridades acima da Linha do Equador já cometeram esse acinte e foram apontadas... Erra ainda quem quer! 

As logos das empresas merecem todo cuidado por parte delas! Símbolo de movimento social? "Ah, vamos ver como a gente acha que fica legal esta semana. Vejam que legal esses triângulos aqui!" 

E o argumento de a bandeira do arco-íris ser excludente não se sustenta. Ou será que é possível "acusar" as flâmulas trans e bissexual, por exemplo, de não serem inclusivas só pelo fato de, assim como aquela, não apresentar outras faixas e cores? 

A crítica aqui é construtiva. É dizer que sim, fundamental ter o poder econômico e de mídia ao lado da luta social, mas que tal deve ser feito com respeito.

Empresas, saibam, não há progresso sem todas identidades visíveis e inclusas! 

E não, diversidade em português não se escreve com $.


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