Homens e mulheres trans do Ceará são foco de 'Transversais'

Criticado por Bolsonaro, documentário de Émerson Maranhão é exibido no 29º Festival Mix Brasil

Publicado em 12/11/2021
Samilla Marques no filme sobre transexuais Transversais
Samilla Marques é uma das pessoas ouvidas no filme. Foto: Junio Braga e Linga Acácio

A história de quatro pessoas transexuais é o tema do documentário Transversais, que está disponível no streaming até domingo 14.

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Antes mesmo da estreia, a obra ficou conhecida por ter sido citada pelo presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), que afirmou que a criação era perda de dinheiro público. 

Com direção do jornalista Émerson Maranhão, abertamente gay, o longa refaz, por depoimentos, a vida dos entrevistados desde a infância e a sensação de estranhamento à idade adulta. Há espaço para fala sobre suas identidades e direitos.

Bullying na vizinhança e na escola (em uma época em que esse termo nem era empregado), a dificuldade de entendimento com a família, o respeito (ou a falta dele) ao nome social e o processo de entender o que está acontecendo consigo mesmo são pontos em comum em suas trajetórias, todas no estado do Ceará.

Em cena, a funcionária pública Samilla Marques questiona o porquê dos pais respeitarem a identidade de gênero de suas amigas, também transexuais, mas não a sua. 

O enfermeiro Caio José lembra de como foi importante ter referências como o escritor João W. Nery (1950-2018) e o ator pornô norte-americano Buck Angel - nomes conhecidos na militância trans - para se descobrir como homem trans.

A professora de matemática Érikah Alcântara conta como se impõe aos alunos, mas também como falta sensibilidade e respeito dos próprios colegas docentes.

O acadêmico Kaio Lemos relembra o histórico de inclusão da diversidade no candomblé, mas questiona que ainda falta muito para que todos sejam aceitos.

A quinta participante do longa é a jornalista Mara Beatriz. Mulher cisgênero heterossexual, ela fala como mãe de uma adolescente trans, e de como o ativismo entrou em sua vida e na de seu marido para defender a filha do preconceito. 

 

 

Em 2019, ainda em fase de finalização, o longa foi um dos citados por Bolsonaro. 

O mandatário afirmou que não permitiria que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) liberasse verbas para quatro longas LGBT que tentavam captar recursos.

"É um dinheiro jogado fora. Não tem cabimento fazer um filme com esse tema", disse o presidente à época.

"Transversais. Um chama Transversais. Olha o tema: Sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneros que moram no Ceará. O filme é isso daqui, conseguimos abortar essa missão."

Maranhão defende sua obra. "Se cada espectador que assistir ao filme despir seu olhar dos preconceitos costumeiros para se permitir conhecer esses personagens tão especiais, sentir suas dores e alegrias, e deixar que essas trajetórias tão bonitas e únicas toquem seu corações e mentes, acho que teremos um excelente começo para mudar o cenário atual."

Ainda inédito no circuito comercial brasileiro, Transversais integra a programação do 29º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade. O longa pode ser visto na plataforma on-line Sesc Digital até domingo ou presencialmente na sexta-feira 19 às 19h30 no Centro Cultural São Paulo - Sala Lima Barreto.

 

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