'Filme gay' de Cauã Reymond não vale nem pela cena de sexo

'Piedade', de Claudio Assis, pouco se aprofunda em personagens complexos

Publicado em 21/06/2020
Piedade: filme de Claudio Assis tem cena de sexo gay entre Matheus Nachtergaele e Cauã Reymond
Matheus Nachtergaele e Cauã Reymond: nem cenas de sexo seguram o longa

Por Marcio Claesen

Novo longa-metragem de Claudio Assis, Piedade tenta discutir inúmeras questões, mas passa ao largo de todas elas.

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O filme, que está em exibição on-line no Festival Itaú Play, do Espaço Itaú de Cinema, era bastante aguardado pela comunidade gay por causa das supostas cenas de sexo entre Cauã Reymond e Matheus Nachtergaele.

As sequências pouco acrescentam ao vasto repertório homoerótico do cinema e isso teria valor menor caso a história fosse melhor desenvolvida.

A questão central da obra é o interesse de uma petrolífera, a Petrogreen, representada por Aurélio (Nachtergaele), em indenizar os últimos moradores de um fictício lugarejo no Nordeste, chamado Piedade, após ter danificado o meio ambiente e deixado a praia, sustento dos locais, infestada de tubarões. 

A alusão ao que aconteceu no porto de Suape, na orla do Recife, não é mera coincidência.

Proprietários de um bar na região, Dona Carminha (Fernanda Montenegro) e Omar Shariff (Irandhir Santos) estão irredutíveis. 

Para rechear este impasse, o cineasta enveredou pelo melodrama, gênero ao qual não está acostumado: o inescrupuloso Aurélio descobriu um membro da família que foi roubado ainda criança, Sandro (Reymond), e tenta fazer um jogo entre os dois lados. Não funciona.

Dono de um cinema pornô, que também oferece quartos para sexo, Sandro é o personagem mais complexo da história. Assis acrescentou muitas camadas ao homem, mas ao final ele continua quase tão hermético quanto no início da história.

Ainda assim, Reymond entrega uma ótima interpretação (que lhe valeu prêmio de ator coadjuvante no Festival de Brasília em 2019). 

O desperdício de Fernanda Montenegro em um papel pouco desenvolvido salta aos olhos. Irandhir Santos tem poucas chances de brilhar. 

Mariana Ruggiero que vive Fátima, irmã de Omar e Sandro, faz figuração. Por outro lado, também em papel pequeno, Denise Weinberg, mãe controladora e classista de Aurélio, brilha.

Pelas temáticas, por vezes, Piedade lembra Amor de Mãe, novela das nove paralisada em março por causa da pandemia. 

Ao contrário da trama de Manuela Dias, no entanto, o filme é arrastado (sobretudo em sua primeira meia hora) e não esmiuça a multiplicidade de sentimentos em torno de personagens que poderiam ser tão ricos e defendidos por grandes talentos.

O longa segue em cartaz até esta segunda-feira 22 pelo evento digital e estreia nos cinemas nos próximos meses.


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