Coordenador LGBTI de SP: 'Bruno Covas deu carta branca a nós'

Ricardo Dias quer aperfeiçoar Transcidadania, manter centros de apoio e reformar áreas arco-íris da cidade

Publicado em 22/04/2019
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Dias quer melhorar nível de informação na cidade a respeito da rede de apoio ofertada a LGBTI

O desafio não é pequeno. O coordenador de Políticas para LGBTI da Prefeitura de São Paulo, Ricardo Dias, parece bem ciente de tal realidade.

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A cidade, uma das maiores do mundo, possui ao mesmo tempo uma das mais completas redes de proteção da cidadania do Brasil para ser administrada, e ainda tem problemas em áreas tal como abertura para participação da sociedade civil, segurança, difusão de informações e saúde. 

Nessa entrevista dada ao Guia Gay São Paulo, Dias trata desse lado da questão, mas também revela caminhos que vislumbra percorrer para fazer avançar o trabalho do órgão e revela ter apoio do prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), para tal.   

Qual a diretriz que o senhor recebeu do prefeito Bruno Covas em relação ao trabalho pela cidadania LGBT?
Ele me deu carta branca para a gente continuar as políticas que envolvam nossa coordenação. Ele e a secretária de Direitos Humanos [Berenice Maria Giannella] me apoiam para que eu busque mecanismos para que a gente continue a implementar essas políticas e até ampliá-las. 

Aí estão o Transcidadania, que queremos ampliar e fazer algumas mudanças. Nada no cerne do programa, mas sim pensar mais na porta de saída. Eu fui advogado de um centro de cidadania por dois anos e pude ver essa necessidade. Temos de focar na empregabilidade e no empreendedorismo. 

Não adianta as e os bolsistas passarem dois anos recebendo a ajuda, fazerem cursos, e depois desse período não haver emprego. 

Estamos fazendo levantamento com bolsistas para conhecer melhor essa realidade. Está no horizonte buscarmos parcerias, inclusive privadas, para solucionar a questão do emprego.

Ele deu carta branca, mas cheque em branco, não. É isso?
Infelizmente, a gente fica restrito ao orçamento previsto. Por exemplo, para este ano, temos orçamento para garantir o funcionamento de todos os centros de cidadania e do Transcidadania. 

E as verbas de eventos, todas as tratativas financeiras e contratuais, saíram daqui e foram para SPTuris. Aí está o apoio à Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Essa é uma mudança em relação a anos anteriores. 

Continuamos aí com questões tais como apoio à liberação da via, intermediação de acordos com órgãos públicos e outros pontos. 

E quanto à questão de HIV/Aids, que ainda afeta tanto pessoas trans femininas, gays e homens bissexuais, como vão agir nessa área? 
Estamos em conversa com a Secretaria de Saúde a respeito dos testes de HIV nas nossas unidades móveis. Dentre as opções está a disponibilização de autoteste.  E claro que vamos pensar nos critérios de distribuição desses kits, para não haver desperdício.

São Paulo tem um dos maiores roteiros LGBT do mundo, possui comunidade arco-íris forte. Mas ainda sofre com episódios de violência. Como a coordenação pretente agir para mudar esse cenário?
Estamos em conversa com a coordenação estadual LGBT na questão da segurança pública, algo que está essencialmente sob responsabilidade do Estado. 

Algumas coisas que estamos pensando aqui dentro e podemos fazer são, por exemplo, reforma da Praça da República, no Largo do Arouche, sensibilizar os agentes de segurança que atuam nessas áreas. 

E quando falo do Arouche e da República, é porque são redutos LGBT mundialmente conhecidos. 

Queremos buscar inclusive parcerias com empresas para ações tais como colocar bandeiras arco-íris na avenida Dr. Vieira de Carvalho. Importante termos essa identificação. 

E temos de ir além. Por exemplo, foram colocados banheiros público na praça do Arouche, mas foram depredados. Precisamos atuar na educação das pessoas, chamar a comunidade, ativistas, todo o coletivo para que possamos cuidar das melhorias que vierem. 

São Paulo é a cidade com a maior rede de apoio a LGBT do Brasil, tem mais de uma centena de locais de entretenimento e diversão LGBT, possui legislação contra discriminação. Pontos muito positivos, mas, no geral, ainda parte da comunidade LGBT não fala tão bem da cidade. Como mudar isso? 
Isso está na divulgação. Por exemplo, recentemente, tivemos reunião com a Secretaria de Educação e as pessoas lá não sabiam da existência dos Centros de Cidadania. Eu fiquei chocado com essa informação. 

Daí veio a ideia de criarmos um informativo para ser fixado em todas as escolas para que se saiba dessa rede que oferecemos. E isso não é problema só da nossa coordenação, mas de muitas. A secretária de Direitos Humanos cobra muito isso de nós, a divulgação. 

E também precisamos nos aproximar dos empresários da cena LGBT e divulgarmos isso cada vez mais. 

E precisamos da união de ativistas. Todas pessoas. Eu não levanto bandeira partidária, levanto a bandeira LGBTI, e é justamente a minha intenção, ouvir todos, de todos os campos, ouvir ideias e implementar. 

E o Conselho Municipal LGBT está voltando, com eleição nesse semestre, assim como o comitê intersecretarias. 

Estamos chamando ativistas para o diálogo, estamos indo a gabinetes de vereadores para nos apresentar, mostrar nossos projetos, falar de emendas orçamentárias etc. 


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