Marco Pigossi não fala com o pai por causa de apoio a Bolsonaro

Ator gay também falou do pânico que teve ao achar que preconceito acabaria com a carreira dele

Publicado em 08/01/2022
marco pigossi gay
Relação com o pai é abalada também por conta da homossexualidade do ator

O ator Marco Pigossi revelou que ficou sem falar com o pai no ano das eleições presidenciais e que até hoje eles mal se comunicam. O motivo? O voto do progenitor no presidente Jair Bolsonaro (PL).

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"Sempre tive dificuldade de entender como um pai escolhe votar num político que insulta seu próprio filho de modo tão visceral. Meu pai e eu ficamos sem nos falar durante o ano da eleição - e até hoje temos contatos apenas esporádicos", contou Pigossi em depoimento à revista Piauí.

"O abismo, que já era grande, tornou-se ainda maior. Meu pai é um cara afetivo, sensível. Sou o primeiro gay com quem ele lida. Pouco a pouco, espero que ele aprenda a lidar com naturalidade."

Na conversa, o ator de 32 anos falou do pânico que ele tinha de ter sua sexualidade descoberta e de perder sua carreira.

Ele lembrou de uma entrevista de Silvio de Abreu, então diretor de Dramaturgia da TV Globo, criticando galãs que saíssem do armário.

"Ele dizia que um ator assumido era um 'bobo', pois a revelação fatalmente prejudicaria sua carreira. Foi uma entrevista muito marcante para mim. Era uma declaração clara de que não era bem-vindo que um ator homossexual abordasse o assunto em público --e isso vinha da boca de uma figura de grande proeminência na emissora."

A entrevista do ex-todo poderoso da Globo foi dada à Folha de S.Paulo, em 2010. Na época, Pigossi havia acabado de interpretar seu primeiro papel de sucesso na TV, o homossexual Cássio em Caras & Bocas e em alguns meses viveria seu primeiro galã, Pedro, em Ti Ti Ti.

Com a repercussão do personagem gay - que repetia o bordão "fiquei rosa chiclete", Pigossi diz que temia ter associada a sua homossexualidade a do personagem.

"Sentia calafrio só de pensar que o público poderia desconfiar que a sexualidade do personagem e do ator era a mesma. Essa possibilidade me aterrorizava. Os fãs vinham falar comigo, repetindo o bordão 'rosa chiclete', e eu estendia a mão com firmeza, fazia uma voz forte, para espantar suspeitas", lembra.

"Era como se estivesse usando uma máscara de heterossexual. A alegria de fazer um personagem que caiu no gosto do público me trouxe aflição. Precisei de ajuda. Recorri à terapia durante a gravação da novela. Fazia análise três vezes por semana."

Um dos episódios mais críticos que ele passou por medo de saberem que ele é gay aconteceu após divulgação de fofoca que supunha um caso dele com outro ator de Fina Estampa, novela que ele tinha papel de destaque em 2011.

Pigossi não cita nomes, mas a informação foi veiculada por Fabíola Reipert, que comandava portal de fofocas.

"Era mentira absoluta. A matéria não dava os nossos nomes, mas deixava claro de quem se tratava. Chegava a dizer que nós nos 'pegávamos' nos bastidores das gravações. Era tudo invenção, mas as pessoas acreditam no que querem acreditar. Eu fiquei travado ao ler aquilo."

O boato dava a entender que o caso era entre Pigossi e o ator Rodrigo Simas. Até hoje, parte da comunidade gay fala sobre o assunto e acredita que houve esse relacionamento por causa da fofoca.

Ele relata seu pânico. "Havia sido marcado em centenas de menções no Twitter e no Instagram. A falsa notícia se espalhou. Então, tive uma crise de pânico, comecei a tremer e suar. Fui para o banheiro do aeroporto, me tranquei em uma cabine e comecei a vomitar."

Pigossi tinha um namorado com quem morou junto por oito anos. "Liguei para o meu parceiro, chorando. Eu dizia para mim mesmo que minha carreira tinha acabado. Não conseguia sair dali. Meu companheiro teve que pegar um voo de São Paulo ao Rio para me buscar. Fiquei horas trancado dentro da cabine, até ele chegar."


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