Série Orgulho Além da Tela mostra porque LGBT devem muito à Globo

Produção da Globoplay é justa ao mostrar lado cinza e contribuição gigantesca da emissora à causa arco-íris

Publicado em 23/10/2021
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Matheus Solano e Antônio Fagundes participam da produção para falar de Amor à Vida

Foi o governo federal que mostrou beijo gay para milhões de pessoas? Foi alguma entidade LGBT que colocou para boa parte do Brasil por meses a autodescoberta de um homem trans? Foi algum juiz que fez donas de casa torcerem para um casal de lésbicas se amarem?

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 Não. Não. Não. 

Quem teve e ainda possui tal protagonismo é a Rede Globo. Foi a Vênus Platinada que, tal como mostra sua logomarca, tornou-se, ao longo do tempo, a tela ainda mais arco-íris e ajudou o Brasil a ficar assim também. Vênus Rainbow!

Essa é a parte principal mostrada pela pela série Orgulho Além da Tela, cujos três episódios foram divulgados e podem ser vistos pela plataforma de streaming Globoplay.

A conclusão acima vem ao fim do painel que a produção faz ao mostrar os principais personagens LGBT de suas telenovelas, o maior produto audiovisual do País. 

O costureiro Gugu, vivido por Ary Fontoura em Assim na Terra como no Céu (1970), abre o primeiro episódio, com depoimento do ator.

Ativistas que se identificam dentro da sigla LGBT ajudam a narrar as tramas e falam da importância de alguns dos papéis em suas vidas.

Incluem-se aí Almir França e Cláudio Nascimento, ligados ao Grupo Arco-Íirs, importante entidade LGBT e organizadora da Parada LGBT do Rio de Janeiro.

Tocante o fato de a série fazer encontros de artistas que viveram LGBT nas novelas com pessoas que tiveram suas vidas impactadas pelas personagens. 

Autores também são ouvidos e fazem até mea culpa. Gay assumido, Gilberto Braga critica personagem criado por ele próprio em Dancin' Days (1978).

"Com esse personagem, eu acho que não ajudei ninguém [porque] as pessoas aceitam o gay que está na história para fazer o público rir", diz sobre Everaldo, mordomo vivido por Renato Pedrosa, que popularizou, à época, o jeito afetado que pronunciava a palavra "madame".

No único momento da atração em que o foco não são as novelas, lembra-se do problema causado com a Censura quando a protagonista de Regina Duarte na série Malu Mulher (1979) teve experiência lésbica.

A dificuldade de desenvolver o enredo, durante a Ditadura Militar, retorna em Brilhante (1981), do mesmo Braga: autor e direção usavam truques, como a música, para que o público percebesse a homossexualidade de Inácio (Denis Carvalho), que integrava o núcleo central do folhetim.

Indefensável que tramas pioneiras, tais como Um Sonho a Mais (1985) - que apresentou o primeiro beijo entre homens (um selinho) na emissora - e Roda de Fogo (1986) - dona do primeiro vilão abertamente bissexual do horário nobre - e outras signficativas, como Roque Santeiro (1985) e Mandala (1987), tenham sido praticamente ignoradas.

O episódio termina com três lendários casais de mesmo sexo: dois lésbicos em Vale Tudo (1988) e Torre de Babel (1998) e um gay em A Próxima Vítima (1995).

As produções a partir de 2000 preenchem a segunda parte do programa. Nessa época, ao menos um casal homossexual era comum nas tramas das nove da Globo e a aceitação do público permitia certa abertura no desenvolvimento das histórias. Mas nem tanta.

Apesar da torcida de parte da audiência, Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) terminaram América (2005) sem beijo - a sequência foi escrita pela autora, Glória Perez, gravada, mas engavetada no último momento pela direção do canal. Informa-se que, infelizmente, anos depois, a cena foi já apagada dos arquivos.

A série é sobre novelas, mas esqueça os arquétipos folhetinescos para classificar a Rede Globo em sua relação com a visibilidade LGBT. Nem heróica imaculada nem vilã desalmada.

O caso acima é exemplo disso: é dito que a Rede Globo não levou o beijo ao ar para não se atrapalhar comercialmente. A produção merece aplausos por não esconder esse lado cinza que ocorreu na caminhada da emissora. 

O beijo - além de um selinho, entre homens - só seria visto pela primeira vez no capítulo derradeiro de Amor à Vida (2014). A cena feita por Mateus Solano e Thiago Fragoso marcou a história da TV brasileira e repercutiu no mundo.

A última parte da série contempla as personagens travestis e transexuais, desde Ninete, interpretada por Rogéria em Tieta (1989) a Britney (Glamour Garcia) em A Dona do Pedaço (2019).

A reverenda trans Alexya Salvador é um dos destaques desse episódio ao falar sobre lembranças de As Filhas da Mãe (2001), de Silvio de Abreu, que apresentou personagem trans dentre as protagonistas da novela, Ramona (Cláudia Raia).

Há ainda momento para celebrar Ivan (Carol Duarte), também escrito por Perez, que trouxe a transexualidade masculina para debate em A Força do Querer (2017).

Quando sobem os créditos de cada capítulo da série - cuja direção insiste na pedante sigla LGBTQIA+ e é confrontada pelos estrevistados, que falam majoritariamente LGBT - fica a certeza: sim, o movimento arco-íris e todos segmentos devem muito de suas conquistas à Rede Globo. E ainda não é o fim! 

 

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