Voltou aos palcos de São Paulo o espetáculo Os Rapazes da Rua Augusta, que fala de prostituição masculina, mas também de amizade, companheirismo e amor.
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Na peça, escrita e dirigida por Roberto Freitas, Kainan Ferraz e Bruno Alba vivem dois jovens que se decidem pelo comércio do corpo nas ruas, nas saunas e na internet.
Um deles, Mariano (Alba), já está no ramo há algum tempo, o outro, Gabriel (Ferraz), é novato. Das dicas e macetes da profissão, surge uma relação intensa e dúbia entre eles.
O Guia Gay São Paulo conversou com os atores, que arrancam suspiros do público, sobre como tem sido a experiência no palco e a resposta dos espectadores.
"A aceitação do público me surpreende, temos recebido muito carinho no dia a dia, tanto na rua, depois da peça, quando saímos para as fotos, e nas redes sociais", revela Bruno. "Pessoas que se identificam com 'flashes' da peça, que apadrinharam os personagens, Mariano e Gabriel."
E continua: "É muito legal pois tem pessoas que já assistiram a duas, três vezes, outras que viram bem mais vezes que isso e dizem que sempre aprendem algo novo. Sempre olham o espetáculo por uma nova ótica. E isso tem gerado um boca a boca positivo, importante para nós como artistas e formadores de opinião."
Kainan também diz que tem se surpreendido com a quantidade de público. "Uma peça com tema delicado, sem patrocínio para grande divulgação. E realmente as pessoas estão retornando para assistir outra vez, seja pra ver de novo ou pra levar alguém. E o público está bastante diversificado."
"Na última temporada foram pai e filha juntos. Ele, um senhor de mais de 60 anos, fez questão de tirar fotos com o elenco. Muito gratificante. E também tem o retorno nas redes sociais. Esse ano era pra ser em São Paulo uma temporada de sete semanas. Fizemos duas a mais. Prorrogamos mais quatro semanas e agora vamos estendemos mais quatro semanas em setembro. Muitos convites para outras cidades e outros Estados. Temos apresentação agendada para fevereiro de 2020 já."
Bruno comenta que "perdeu o controle" de seu Facebook e não consegue adicionar mais ninguém. No Instagram, tenta responder todas as mensagens.
"Eu sofro um pouco com as mensagens abertas, pois minha família acompanha meu trabalho e algumas têm um teor não muito apropriado", revela.
"Muitos se apaixonam e desejam o Mariano e acabam externando nos comentários, acabam confundindo personagem e vida real. Nas mensagens privadas, só pelo início da conversa, já consigo identificar se é desrespeitosa ou não... Muitas nem abro. Porém, muitos são respeitosos, pois se trata de um trabalho muito bonito, digno e o público percebe a nossa total entrega no palco."
Kainan aponta que inclusão de personagem garoto de programa na novela das nove, A Dona do Pedaço, também ajudou a repercussão. "Ganhei 25 mil seguidores em quatro dias", diz.
"Tem abordagem de todo tipo. Hoje com a facilidade das redes sociais fica mais fácil entrar em contato. Muitas vezes não consigo ver tudo e fica difícil responder e curtir como fazia antes. E além das minhas páginas pessoais ainda tem as páginas da minha produtora. Umas [mensagens] até dá para dar boas risadas. Outras não tem como não excluir. Acho que ainda mais pelo personagem que faço, desperta o imaginário das pessoas."
E como os atores veem a prostituição após essa experiência tão intensa nos palcos? "Na vida, todos temos questões particulares, objetivos, sonhos... tendo esta lucidez, já é motivo suficiente para respeitarmos uns aos outros", responde Bruno.
"A prostituição se torna um 'produto de consumo' delicado, pois se trata de um ser humano com um universo dentro da mente, na qual se troca a beleza, desejos, vontades, ideias por dinheiro. No caso da peça, eles fazem por necessidade ou começam a fazer por necessidade, e após isso eles conhecem o luxo, a luxúria e têm oportunidade de ter uma vida na qual o dinheiro compra tudo. Na vida é exatamente igual... primeiro necessidade, depois luxo. Continuo vendo com muito respeito e carinho."
"A vida é feita de escolhas, mesmo que em certas ocasiões as pessoas não tenham muitas opções de escolher", diz Kainan. "Vai da necessidade de cada pessoa ou da dificuldade que cada um tem. Não cabe a mim julgar. Respeito as escolhas de cada um."
Os Rapazes da Rua Augusta faz temporada todas as terças-feiras, às 21h, no Teatro Itália, até dia 24. Mais informações você tem em nossa Agenda clicando aqui.
