Por Marcio Claesen
Um dos longas-metragens com temática gay mais aguardados do ano, A HIstória do Som deixa gosto acre na boca por decepcionar justamente no que deveria ser seu ponto forte.
Dirigido por Oliver Hermanus, o filme tem roteiro de Ben Shattuck, que adaptou seu próprio romance, homônimo e lançado em 2018, para as telas.
A trama começa em 1910, com o ainda pequeno Lionel na fazenda dos pais no interior dos Estados Unidos. Com o genitor, ele aprende canções antigas e já se mostra afinado, talento que levará para a vida.
Sete anos depois e com a Primeira Guerra Mundial em curso, Lionel (Paul Mescal) já se tornou um homem e estuda em um conservatório musical.
A produção começa a pecar aí: pelo tempo que se passou, o jovem deveria ter 18, 19 anos no máximo, mas Mescal, de 29, não imprime um pós-adolescente.
Lionel se mostra seduzido por David (Josh O'Connor), de 36 anos, com também cerca de uma década a mais do que o ideal.
Esse frescor da descoberta da vida misturado com desejo e exploração de novas sensações ficam comprometidos uma vez que é difícil embarcar no perfil proposto dos personagens.
Os dois vão para a cama e um relacionamento, que parece ser semanal, se inicia. Na tela, transparece um tanto de carinho. Fervor, paixão? Difícil, já que o cineasta evita beijos tórridos entre os rapazes e sequências de sexo.
Neste momento, já sabemos que a história é contada do ponto de vista de Lionel e que tem David no ponto central dela, entretanto, não há conexão suficiente entre eles que gere empatia e envolvimento para se aprofundar nos desdobramentos desse relacionamento.
Após a guerra, os dois se reencontram e partem para uma missão musical: registrar canções antigas de moradores do nordeste dos Estado Unidos em um aparelho rudimentar para levá-las à posteridade.
Mesmo em meio a condições inóspitas, tais como o frio e a região onde montam sua barraca, o elo entre o casal nunca se mostra forte o suficiente.
Os anos passam e Lionel envolve-se com outras pessoas, que são mostradas de forma rápida e rasa, como o de quem quer colocar todos os personagens de um livro na tela, mas não tem tempo suficiente para isso.
A despeito de ótimos som e trilha sonora e caprichadas direção de arte e figurino, A História do Som falha justamente onde não poderia: elevar o romance àquele ponto em que deixa o público entregue.
É verdade que faz alguns soluçarem no final, provavelemente pela excelente atuação de Chris Cooper em uma participação no epílogo, mas que já é tarde demais para o filme.
A História do Som tem estreia agendada para 19 de fevereiro de 2026 nos cinemas do Brasil.