Atores e diretor de 'Bruta Flor' falam das cenas de nudez do espetáculo

Peça, que conta romance gay e trata de homofobia internalizada, está em cartaz no Teatro Augusta

Publicado em 15/08/2017
Willian Tucci e Adriano Arbol falam das cenas de nudez que protagonizam em Bruta Flor, em cartaz no Teatro Augusta
Willian Tucci e Adriano Arbol vivem romance tenso e visceral em 'Bruta Flor'. Fotos: Ronaldo Gutierrez

Em meio à grande oferta de espetáculos com temática LGBT na cidade, alguns chamam atenção. Bruta Flor, em cartaz às sextas-feiras no Teatro Augusta, reúne ingrendientes que garantem à montagem sua quarta temporada consecutiva em nove meses nos palcos de São Paulo.

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O texto - assinado por Vitor de Oliveira e Carlos Fernando de Barros - conquista ao contar a história de dois homens que se envolvem na adolescência e se esbarram anos depois em épocas diferentes de suas vidas. Um deles, bem-sucedido, foi morar na Europa e assumiu-se gay. O outro leva uma vida dura com esposa e aguardando o primeiro filho nascer.

O diretor Marcio Rosário não só não fugiu do tema polêmico do espetáculo, a homofobia internalizada, como o deixou ainda mais visceral. Na atual temporada, ele deixa os atores mais à vontade em cena, literalmente. As cenas de nudez estão mais ousadas e picantes.

O Guia Gay São Paulo conversou com Rosario e os atores Adriano Arbol e Willian Tucci (que vivem uma espécie de triângulo amoroso com a personagem de Erika Farias), sobre como eles encaram a nudez nos palcos, como foi o processo e se houve preparação física para isso.

Vocês já haviam ficado nus no palco antes?
Adriano Arbol - Faço o personagem Lucas, o nu em cena nunca me incomodou enquanto ator. Com a exposição do corpo, a primeira coisa que avalio e observo quando me convidam para trabalho desse gênero é o texto e a direção, qual a proposta do espetáculo e como o diretor vai direcionar essa exposição

Em Bruta Flor, fui presenteado com um grande personagem e uma grande direção, que desde o primeiro dia de ensaio e durante o processo tratou tudo com muita naturalidade, responsabilidade e respeitando os limites de cada um. Nosso diretor, não só pensa no espetáculo como um todo, como também em seus atores, nos dando liberdade de criação, o que acho muito digno.

Willian Tucci - No palco, eu nunca havia ficado nu, apenas no cinema. Quando fiquei sabendo que faria o Miguel, foi um motivo de grande felicidade para mim, justamente por não ser um tipo de personagem ao qual eu estou acostumado a viver. Essa carga dramática dele – e leveza, ao mesmo tempo – é algo que me motiva muito, pois há grandes nuances de humor, de personalidade e de vontades ao longo do espetáculo, tornando-o um personagem mais humano e fazendo com que haja maiores desafios a mim como ator.

Atores e diretor de 'Bruta Flor' falam das cenas de nudez do espetáculo

Como é lidar com personagens tão intensos e ao mesmo tempo explorar a sexualidade deles assim, de forma tão direta com o público?
Adriano Arbol - O espetáculo é intenso, visceral, mas sensível, poético, que aborda o assunto com total maestria, sem vulgaridade. O público tem nos dado um retorno surpreendente, graças a Deus!

Willian Tucci- Apresentar uma obra que "exala" sexualidade – com um tema LGBT ainda por cima – é realmente uma polêmica, justamente pelo fato de que, para muitos, a nudez virou banal; e para outros, apenas um estado humano e forma de liberdade de expressão.

Muitos acham que a nudez ficou gratuita nos últimos anos, já outros reclamam que tudo ficou muito mais pudico e conservador nos nossos tempos em comparação com os anos 80 e 90. O que vocês acham?
Adriano Arbol - Em relação aos anos 80 e 90, acho que evoluímos muito. Hoje conseguimos tratar esse assunto com mais seriedade, naturalidade, antigamente montar um espetáculo discutindo a homossexualidade, preconceito, era motivo de piada. A informação que hoje o Bruta Flor consegue passar, na época não conseguiria, a mente das pessoas era outra, houve uma transformação gigantesca.

Marcio Rosario - O Brasil tem essa cultura terrível, de ver o corpo como algo vulgar. Hoje em dia as pessoas recebem fotos nuas em seus celulares o tempo todo e compartilham as mesmas, mas quando vêm ao teatro elas vestem o "manto da bondade" - pura hipocrisia.

Eu senti que devia explorar a sexualidade dos personagens ainda mais nas cenas do espetáculo, mesmo não tendo no texto essas cenas. Estamos fazendo teatro para adultos que estão acostumados a ver, falar e fazer sexo. Eu apenas tento refletir no palco a realidade e tive a sorte de ter atores viscerais que toparam a minha ideia cênica.

Fizemos uma sessão em Santos com mais de 450 pessoas no teatro com público mais diverso impossível e, nesse dia, achei que iria ter um certo desconforto, o que não houve. Fomos parabenizados pela nossa coragem!

Atores e diretor de 'Bruta Flor' falam das cenas de nudez do espetáculo

Vocês se prepararam fisicamente para as cenas de nudez, algum cuidado extra com o corpo?
Adriano Arbol - Sempre fui muito vaidoso, sempre me cuidei, e para fazer esse tipo de trabalho temos que pensar que, não é só o corpo do personagem que está no palco e, sim, do ator Adriano Arbol (risos). Gosto muito de correr, praticar exercícios físicos, espetáculo necessita de um bom condicionamento físico. Tudo que for para fazer pela arte, pelo espetáculo, e pelo nosso público, vale sempre muito. Gratidão!

Willian Tucci - Eu já estava treinando musculação há nove meses, mas quando fiquei sabendo sobre o Bruta Flor, em que haveria cenas de nudez, imediatamente alterei meus hábitos alimentares e intensifiquei os exercícios com o meu personal trainer, cinco vezes na semana.

Como foi a elaboração das cenas mais ousadas e de nudez?
Marcio Rosario - Pensei em várias formas de como realizar as cenas sem ser se tornar grosseiro ou vulgar para o público. Fizemos muitos ensaios e tudo foi feito bem mecânico e conversado com o elenco para os atores se familiarizarem com as marcas. Todas cenas de sexo são todas bem marcadas, quase uma grande coreografia.

Nos ensaios demos muitas risadas de como fazer o que seria correto, quando chegamos à conclusão que não existe o correto ou errado no sexo na busca do prazer do parceiro e com isso fomos desenvolvendo todas as cenas de sexo.... da mais tranquila a mais intensa.

Temos a iluminação que somada ao talento dos atores acaba dando um tom real necessário para as cenas...

William Tucci- Quando eu sentei a primeira vez para conversar com o nosso diretor, Marcio Rosario, ele disse que gostaria de voltar ao tom original do espetáculo, trazendo cenas mais fortes e adaptando/acrescentando algumas cenas sensuais que não estavam no texto, mas achava necessário para o espetáculo.

O que me encanta no Bruta Floré como há poesia por traz dessas cenas, é como pessoas bem conservadoras acabam mergulhando na história, justamente pela forma como a narrativa foi dirigida, provocando multisensações no espectador: angústia, excitação, uma pitada de humor e, principalmente, empatia. Acredito que essa seja a palavra para as coordenadas que recebi do Marcio: tornar o Miguel um cara com o qual o público se identifique – com erros e acertos.

Mais informações sobre Bruta Flor você tem em nossa Agenda clicando aqui. AVISO: O Guia Gay São Paulo vai sortear dois pares de ingressos para a sessão desta sexta-feira a nossos seguidores no WhatsApp. Para concorrer, basta gravar nosso número (11 99319-6689) na agenda de seu telefone e depois enviar a palavra TEATRO 2 pelo Whats para nós. Para quem já faz parte da lista, basta enviar a mesma palavra. 

Atores e diretor de 'Bruta Flor' falam das cenas de nudez do espetáculo

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Atores e diretor de 'Bruta Flor' falam das cenas de nudez do espetáculo

 


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