Mix Brasil promove histórico encontro de literatura LGBT

Em sua 26ª edição, festival reúne dezenas de escritores em 16 mesas no Mix Literário

Publicado em 11/11/2018

26º Mix Brasil promove Mix Literário, encontro inédito de literatura LGBT com escritores gays, lésbicas, bissexuais e transexuais

Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade tem o cinema como a sua maior vitrine, mas também se abre a outras áreas artísticas, como a literatura.

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Nesta 26ª edição, o evento promove um dos maiores encontros de literatura LGBT de sua história. 

Entre 17 e 24 de novembro, o Mix Literário, em sua primeira edição, contará com cerca de 80 nomes do mercado editorial, incluindo editores e autores, em 16 mesas.

Idealizado pelo escritor Alexandre Rabelo, o Mix Literário terá bate-papo com João Silvério Trevisan (do clássico e essencial Devassos no Paraíso), Amara Moira (de E Seu Fosse Puta) em dia dedicado à literatura trans (o TRANsarau) e debate voltado às escritoras lésbicas e bissexuais.

Dentre outros destaques, o evento discutirá ainda o "Fascismo na poética de Pasolini", sobre o grande cineasta Pier Paolo Pasoloni e "Homenagem: 70 anos de Caio F." com o crítico italo Moriconi, o ator e diretor Rodolfo Lima e o jornalista Celso Curi a respeito de Caio Fernando Abreu, uma das maiores vozes gays da literatura brasileira e que se estivesse vivo teria completado 70 anos em 2018.

O Guia Gay São Paulo conversou com Rabelo para saber um pouco mais dessa grande celebração da literatura LGBT brasileira.

Como foi a organização da programação?
Nessa primeira edição do Mix Literário, procuramos criar uma mostra significativa do que está sendo produzido hoje no Brasil por autores LGBT, sobretudo em obras cujo foco principal é a própria literatura e o trabalho com a linguagem.

Queremos mostrar que produzimos literatura em geral, com um olhar queer, sobre o todo social, e não apenas uma literatura LGBT voltada para a própria comunidade. Procuramos priorizar temas e enfoques que fujam da dita literatura de nicho, que normalmente gira em torno de quatro eixos básicos: preconceito, autoaceitação, sair do armário, o primeiro amor.

Em todos os dias de eventos, teremos autores consagrados, ao lado de novas vozes, discutindo questões como o neofascismo, as representações do masculino e do feminino, a coexistência no espaço urbano, novas formas de amor e de constituir família. É uma programação voltada para todos os interessados em literatura, e não apenas para LGBT.

Escritor Alexandre Rabelo organiza o Mix Literário, encontro de literatura gay, lésbica, bi e trans no Mix Brasil
'Ainda somos vistos como humanos inferiores que provocam compaixão', diz Rabelo

E os convidados, como a foi feita a escolha?
Esta curadoria conta com cerca de 80 autores gays, lésbicas, trans, não-binários, bissexuais, além de estudiosos. Temos nomes como João Silvério Trevisan, Cristina Judar e Amara Moira, autores com literatura de alto nível, além de uma nova produção surgida bem recentemente, nos últimos três ou quatro anos, e que conta tanto com romancistas, quanto com poetas.

Queríamos dar visibilidade também para os saraus, que tem uma história linda e cada vez mais forte, como o TRANSarau. Também nos preocupamos em homenagear obras e autores clássicos, de forma a pensar o lugar das narrativas queer no cânone literário ocidental, como as mesas sobre os 70 anos de Caio F., os 80 anos do livro Orlando, da Virginia Woolf e o fascismo na poética do Pasolini, que antes de ser cineasta, foi um poeta aclamado.

Queríamos pensar também essa interface forte que sempre existiu entre literatura e cinema, já que estamos ocupando um espaço importante no maior festival de cinema LGBT da América Latina.

E como você vê a literatura LGBT hoje no Brasil?
Hoje existem basicamente dois eixos conflitantes. De um lado, a dita literatura de nicho, com muita literatura erótica de qualidade duvidosa, bem como livros voltados para jovens adultos LGBT mais heteronormativos.

Essas narrativas têm muito forte, por um lado, um cinismo, um amargor, uma descrença e, por outro, um vitimismo que o leitor hétero adora ler. Os livros LGBT mais aceitos pelos leitores héteros são os que mostram o LGBT desamparado. Isso quer dizer alguma coisa! Nós ainda somos vistos como humanos inferiores que provocam compaixão.

Porém, além desse eixo que acabei de comentar, temos uma literatura mais experimental, que trabalha a linguagem, e que torna o LGBT protagonista de outros conflitos sociais diferentes da sexualidade e da questão de gênero. Não somos só isso, embora isso seja já muita coisa.

O Mix Literário será realizado entre 17 e 24 de novembro na Sala de Debates do Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000, Liberdade, estação Vergueiro do metrô). A entrada é gratuita e a programação completa está no site do festival clicando aqui.


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