Com atrizes trans, peça 'As 3 Uiaras de SP City' estreia

Espetáculo de Ave Terrena Alves mistura perseguição à população trans com musicais

Publicado em 16/05/2018
Peça com Danna Lisboa e Verônica Valenttino, As 3 Uiaras de SP City fala de pessoas transexuais. Foto: Renato Mangolin
Peça conta com atrizes trans no elenco e fala de transfobia. Foto: Renato Mandolin

Na próxima sexta-feira 18, estreia a peça As 3 Uiaras de SP City no Centro Cultural São Paulo (CCSP). 

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A peça, uma das vencedoras do quarto edital Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos, tem artistas trans no elenco, texto de Ave Terrena Alves e direção de Diego Moschkovich.

Em As 3 Uiaras de SP Cirty, Miella e Cínthia (interpretadas pelas atrizes trans Danna Lisboa e Verônica Valenttino) moram em SP City, onde trabalham em salões de beleza, fazem programa e performances em boates.

Elas decidem fazer um show musical, conseguem agendar a primeira apresentação e para viabilizar a infraestrutura tentam se associar a Valéria, militante feminista.

Porém a Operação Rondão, comandada pelo delegado Rochetti, agrava a já violenta realidade das travestis, mulheres trans e prostitutas da região – entre a década de 1980 e a atualidade – com prisões e agressões.

Para o diretor, o espetáculo é quase um musical, pois há quatro músicos em cena que tocam ao vivo a trilha sonora, além de quatro canções autorais de Ave em parceria com a equipe musical.

"Busquei inspiração na concepção de montagem de atrações de Serguei Eisenstein, um dos mais importantes cineastas soviéticos, e criei uma atmosfera de boate paulistana dos anos 1980 com shows de travestis. A cada cena temos um novo número", explica ele.

A dramaturga Ave Terrena Alves conta que a necessidade de resgatar a memória de travestis e mulheres trans que circulavam pelo centro de São Paulo surgiu durante a pesquisa do Laboratório de Técnica Dramática – LABTD, do qual é integrante, sobre o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), publicado em 2014.

A pesquisa da peça tomou como base o livro Ditadura e Homossexualidades, organizado por James N. Green e Renan Quinalha, as 37 edições do jornal O Lampião da Esquina, e, principalmente, os diálogos fundamentais com as militantes feministas trans Neon Cunha e Erika Hilton.

"Escolhi então o recorte das Operações Rondão e Tarântula para trabalhar dramaturgicamente o material histórico. Comandada pelo delegado José Wilson Richetti, essas operações ocorreram ao longo da década de 1980, sendo um marco trágico na história de violência sofrida pela população LGBT e de prostitutas em São Paulo, onde viviam pessoas de todas as regiões do País", explica a dramaturga.

"Não se trata, contudo, de uma peça histórica, pois o tempo do texto transita entre passado e presente, entre narrações sobre o passado e cenas situativas no presente", explica o diretor.

Já para Ave, o objetivo é criar uma temporalidade híbrida que resgate os eventos históricos para verificar quais as circunstâncias que permaneceram e quais se modificaram.

"A pulsão rapsódica é, portanto, um princípio formal estruturante do texto, uma vez que as personagens se deslocam entre tempos ambíguos, que criam uma zona de indeterminação temporal entre a década de 1980 e a atualidade", completa ela.

Escrita por uma dramaturga trans e com duas atrizes trans em cena, o diretor também leva à cena a vivência dessas mulheres tecendo linhas de ações e relações delicadas com os perigos atuais de corpos que não se encaixam na norma segundo o poder instituído.

Uma exigência de Ave é que as personagens Miella e Cínthia devem ser interpretadas por atrizes travestis ou mulheres trans, pelo menos até o ano de 2047, caso o texto venha a ser remontado. Assim, para a montagem, as atrizes e cantoras Danna Lisboa e Verónica Valenttino foram convidadas pelo LABTD para juntar-se ao núcleo do grupo no processo.

O espetáculo faz temporada de sexta a domingo até 10 de junho. Mais informações você tem em nossa Agenda clicando aqui.

 


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