'Queria fazer uma peça em que todos são iguais', diz autor de 'Não Conte a Ninguém'

Publicado em 25/08/2014

Traduzir aquele momento difícil da adolescência quando a sexualidade aflora, sentimentos até então desconhecidos, como a paixão, desnorteiam, e preconceitos podem atrapalhar a busca pela própria identidade foi o desafio de Ricardo Corrêa, autor de Não Conte a Ninguém, em cartaz no Espaço Parlapatões.

"Eu queria fazer uma peça que mostrasse que todo mundo é igual e que se evidenciasse o amor nas relações humanas", explicou Corrêa ao Guia Gay São Paulo. "É muito difícil ser homem e mulher em nossa contemporaneidade, os hormônios estão pulando, queria tratar com profundidade das perdas e da identidade".

O espetáculo conta a história de um jovem de 17 anos, Deco (interpretado pelo próprio Ricardo), que se apaixona pelo professor e precisa lidar com o preconceito da tia e do melhor amigo, enquanto encontra apoio na amiga lésbica, que também está se assumindo. 

O autor conta que mesmo que o texto não seja autobiográfico, ele traz seu olhar sobre o mundo com experiências pelas quais todos passamos. "Afinal, quem nunca se apaixonou? Quem nunca ouviu músicas no quarto pensando na pessoa amada? Me recordo que uma das fases mais terríveis da minha vida foi a adolescência. Eu era um adolescente com medo, cheio de incertezas, buscando aceitação na escola, nos grupos sociais. Havia um sentimento de inadequação, o teatro me salvou nesse aspecto, e se revelou como uma teia de possibilidades". 

A tecnologia contribui para o acesso às informações, mas o dramaturgo não acredita que seja mais fácil ou mais difícil sair do armário hoje. "A homossexualidade para minha falta de informação da época era demoníaca, bestial, errônea, indevida. Não havia beijo na novela em horário nobre, mas havia o casal de lésbicas na [novela] Torre de Babel, que foram tiradas pela explosão do shopping center. Me lembro que o autor optou por matarvários personagens rejeitados pelos telespectadores", diz.

Formado ator pela Escola de Arte Dramática (EAD) da USP, Ricado Corrêa, aos 28 anos, já tem 12 peças escritas (e levou ao palco algumas delas). "Tem um conjunto de assuntos que aparecem na minha dramaturgia que têm a ver normalmente com a cidade, o homem contemporâneo, intolerância, identidade, preconceito, minorias. Às vezes os personagens aparecem de maneira mais pesada, outras, de forma mais lírica, leve, como em Não Contra a Ninguém", define.  

O espetáculo está em cartaz às terças-feiras no Espaço Parlapatões. O Guia Gay São Paulo está sorteando um par de ingressos para a sessão do dia 26. Participe em nosso perfil no Facebook.


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